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for novembro, 2014

A rua vicia…
nov 21 2014 ·0A rua vicia (ou não entre sem convite)
No livro ‘Identidade’, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman cita Wittgenstein pela curiosa declaração de que os melhores lugares para se resolver problemas filosóficos são as estações de trem. Justamente por se posicionar no que Derrida chamava de “encruzilhada cultural”, as estações são lugares de chegadas e despedidas, de intimidades e distanciamentos, essenciais para a transgressão das fronteiras, para enxergar a humanidade que existe por trás das fachadas morais e culturais.

O artista colecionador
nov 21 2014 ·0É inegável que existe um paradoxo a ser desvendado nas atuações corriqueiras do cotidiano contemporâneo: o excesso de conexões em banda larga e a completa desconexão de olhares e ideias. Quando o percurso se dá por vias largas que tangenciam outros saberes não alocados em caixas disciplinares, mas permeado por experiências e coincidências, alguns caminhos felizmente se entrelaçam.

Os novos colecionadores de arte
nov 21 2014 ·0Uma verdade seja dita: há algumas décadas colecionadores de arte precisavam ter laços aristocráticos para poder iniciar ou sustentar uma coleção. Nomes como o de Peggy Guggenheim e Henry Tate estavam atrelados a fortunas que os posicionava na elite mundial do mercado de arte.
Muitos anos se passaram e muitas coisas mudaram: as obras de arte estão cada vez mais próximas do público e atendem ao gosto pessoal assim como ao bolso de um público diversificado, que não necessariamente nasceu em berço de ouro. Cada vez mais os colecionadores trabalham ou trabalharam duro para construir patrimônio e, por escolha, direcionam parte de seus investimentos na aquisição de obras de arte.

Sismografia da alma
nov 21 2014 ·0É preciso adorar dançar para persistir. A dança não dá nada em retorno, nem manuscritos a guardar, nem pinturas a colocar na parede ou mesmo a expor nos museus, nem poemas a publicar ou vender; nada salva esse instante fugaz, único, quando você se sente viver. (Merce Cunningham)
Nessa frase do coreógrafo Merce Cunningham percebemos que, de fato, a arte não é perene, na medida em que o olhar que a produz é mutável, assim como o olhar que a absorve é plural.
A dança agrava essa impermanência: nenhum movimento, nenhuma expressão é igual a outra, mesmo que executados sincronizadamente ou repetidos pela mesma pessoa.
Isso enriquece, e ao mesmo tempo, desafia artistas da dança em vários sentidos, porque transforma esse instante fugaz e único a que se refere Cunningham, em constantes novas experiências a serem vividas tanto pelo bailarino, quanto pelo coreógrafo, e mais ainda pelo expectador.

Receita para coexistência
nov 21 2014 ·0Receita é o nome do trabalho de dança/performance de Julia Salaroli, bailarina capixaba, e Sezen Tonguz, performer turca, contemplado no prêmio de dança da Funarte – Klauss Vianna – em 2011.
Julia, que é formada em dança pela Unicamp, conheceu Sezen, num curso de composição coreográfica em Lisboa, onde ficaram por dois anos. Segundo elas, Julia era uma brasileira querendo aprender inglês e Sezen uma turca querendo aprender português. O aparente vácuo na comunicação aproximou as duas, e daí iniciou-se a pesquisa que hoje resulta na dança/performance “Receita”.

A outra volta do parafuso
nov 21 2014 ·0de Henry James
por Flávia Dalla Bernardina
A verdade é terrível, mas qual delas? Se cada ser humano carrega uma versão particular da vida, a verdade possui quantas faces?
Antes de dar mais uma volta no parafuso do seu suspense, Henry James nos oferece uma narradora sem nome – o pouco que conhecemos dela é que era a filha mais jovem de um pároco do interior, e que guardava alguma intimidade com o rapaz a quem confiou o manuscrito de sua história – que no livro é contada por esse rapaz, quarenta anos após o ocorrido.

Dance, Otherwise…
nov 21 2014 ·0Cheguei à sala de cinema e poucas cadeiras me esperavam. A que encontrei me disponibilizou uma vista justa à tela. Tomei um fôlego como se fosse começar um solo, e solos são cruéis: você, os movimentos e seu oxigênio. O prazer e a dor de dançar até o fim.
A dança habita o espaço vazio deixado pela palavra que não existe. Quando não há como dizer, há dança. Pina Bausch (Phillippine Bausch, Solingen, 27 de julho de 1940 — Wuppertal, 30 de Junho de 2009), bailarina, coreógrafa e diretora do Tanztheather Wuppertal não precisava ter morrido para se eternizar. A lenda já estava viva.

A experiência do olhar na arte
nov 20 2014 ·0Hamlet: – Você não vê nada lá?
A Rainha: – Nada mesmo; mas tudo que é, eu vejo.
(Shakespeare: Hamlet, Ato III, Cena IV?)
Valho-me da citação de Arthur C. Danto*, no texto “O mundo da arte”, para dar início a essa breve reflexão. Nesse texto, Danto ilumina a forma de como Hamlet e Sócrates trataram “a arte como um espelho anteposto à natureza” – embora, como o próprio autor diz, “respectivamente de modo elogioso e depreciativo.”**