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Colecionismo: A profanação da obra de arte

mai 02 2014 · 0 comments · Colecionismo ·0

“Uma coleção, como uma obra de arte, só pode ser feita à mão. Diferentemente do artista, porém, o colecionador jamais conclui aquilo que começa: sempre há algo a conquistar, a modificar, a aprimorar. Como o artista, ambos tem em comum o trabalho solitário e paciente, que necessita tanto de razão quanto de sensibilidade, de conhecimento tanto quanto de instinto. Eles, todavia, divergem a partir do momento em que se coloca o problema da conclusão do esforço empreendido. Uma obra de arte que não chega ao fim nunca chega a ser mais do que potência, virtualidade; uma coleção que chega ao fim perde irremediavelmente seu potencial de realização. Paradoxal, sem dúvida, mas verdadeiro.”

Esta frase foi publicada no material de divulgação de exposição realizada em 2012 no MAM-RJ, de obras de arte moderna brasileira que compõem a coleção de Gilberto Chateubriand. A sensibilidade do texto está em evidenciar a virtude de cada função, se assim podemos dizer: a do artista, de finalizar a obra para que ela seja mais do que uma idealização, para que se materialize e toque o mundo; e a do colecionador, de prosseguir no caminho iniciado pelo artista, de continuar a obra, fazendo-a circular e tornando-a ainda mais potente.

O colecionador é esse observador cuidadoso, criterioso e apaixonado, que cultiva um olhar privilegiado, pois está distante da obra o bastante para se aproximar dela. A aquisição da obra torna-se, então, movimento consequente à essa pulsação que se estabelece entre o olhar do espectador e a obra de arte.

Em verdade, a obtenção da obra é a derradeira etapa de um processo que se inicia através do olhar, amadurece pela convivência e se concretiza no ato da aquisição. Não se trata de uma superficial relação de consumo, mas de uma profunda troca, que tem como impulso a sensibilização do olhar pelo contato entre o espectador e a obra de arte.

Sobre essa relação é apropriado invocar algumas passagens do texto “Elogio da Profanação”, do filósofo italiano Giorgio Agamben, publicado pela editora Boitempo. Nele, o autor define o sagrado como aquilo que foi retirado da esfera do homem, do livre uso humano e subtraída a uma instância separada. Profanar, por outra via, seria tudo aquilo que é restituído ao uso comum. Trata-se de um novo uso.

Nesse sentido, o uso, que é objeto da profanação, torna livre o que foi aprisionado na esfera do sagrado. Não se trata de mera aquisição, onde as relações e objetos tornam-se descartáveis. Isso é o que o filósofo chama de negação do uso, própria da sociedade do consumo. Neste, pressupõe-se a destruição, enquanto que no uso, a substância da coisa mantém-se intacta, não como algo que se possa ter. A verdadeira natureza do uso é aquela que estabelece relação com o inapropriável. Vale a breve transcrição:

“Se hoje os consumidores na sociedade de massas são infelizes, não é porque consomem objetos que incorporaram em si a própria não usabilidade, mas também e sobretudo porque acreditam que exercem o seu direito de propriedade sobre os mesmos, porque se tornaram incapazes de os profanar.” [1]

Assim, a proposta de um novo uso é aquele que liberta um comportamento de sua inscrição genética, esvazia seu sentido e sua relação imposta com uma finalidade. Seria o que o autor chama de “emancipação da finalidade”, para conservar a natureza de um meio puro, ou um meio sem fim.

Trazendo essa reflexão – que vai muito além desses breves comentários – ao contexto do processo de colecionismo, poderíamos dizer que a relação entre colecionador e obra de arte deve ser a de profaná-la, no sentido de conferir um dinamismo tal, restituindo-a a todo instante ao convívio dos homens, ainda que haja insistência para que se torne sagrada.

No caso da coleção de Neyder Fernando Lima, cujo acervo iniciado a partir dos anos 90 constitui-se essencialmente por obras de arte contemporânea, esse dinamismo é potencializado, considerando que a arte contemporânea está em movimento contínuo, levanta questões, busca diálogos e elucubra sobre temas pertinentes ao momento presente.

Colecionar obras de arte é um modo de se posicionar perante a vida e a escolha pela arte contemporânea define a verdadeira compulsão do colecionador: a de aprender e apreender o aqui e agora manifestados nas obras que adquire.

Sua referência como artista plástico antes mesmo de se tornar colecionador evidencia outra questão da contemporaneidade: a necessidade de contornar o indizível, aquilo que até pode ser nomeado, mas passa ao largo de um discurso definitório. É nesse sentido que vemos o entrelaçamento de atuações na dita pós-modernidade, onde o artista é colecionador, o marchand é curador, o curador é crítico, o crítico é colecionador, e assim segue, em inúmeras possibilidades.

A construção do acervo ao longo de mais de 20 anos demonstra a necessidade do colecionador em substantivar sua coleção, desativando qualquer possibilidade de adjetivá-la como investimento ou decoração. A escolha é o ato que define, sem por isso limitar, o encontro do colecionador com a obra.

Nenhuma escolha é gratuita ou sugestionada e sempre pressupõe a perda de algo. Essas perdas, as obras que foram deixadas para trás, também cumprem um papel na coleção. Numa analogia à frase do fotógrafo e cineasta Wim Wenders: “O verdadeiro ato de enquadrar é excluir algo.”[2]

Pertinente é a questão colocada pelos colecionadores Mônica e George Kornis, no texto “No escolho da quantidade a quantidade da escolha: o olho”:

“Qual o papel da coleção? (…) qual o sentido de sistematicamente localizar, adquirir, classificar, tratar, reunir e conservar imagens dispersas? Colecionar esgota-se na compulsão ou vai mais além? Colecionar é necessariamente sinônimo de riqueza material, avareza, narcisismo e outros atributos não menos perversos?”

À toda evidência tais perguntas são sabiamente colocadas pelos colecionadores no referido texto para serem, em seguida, desmontadas. Uma coleção é sempre dinâmica, tem o potencial de transformar e acima de tudo é aprendizado.

Como bem ressalta George e Mônica Kornis, o ato de colecionar passa ao largo de qualquer identificação com o estereótipo do colecionador – uma pessoa hermética, solitária e estranha, caracterizada como um simples acumulador.

Esse seria a perversão do consumo apresentado por Agamben, que privilegia a mera aquisição como acumulação, descarte e destruição da coisa, no caso em tela, a obra de arte. Nessa versão não há aprendizado, dinamismo, muito menos transformação, mas tão somente a apropriação que separa a coisa e a eleva para uma outra esfera distante dos homens.

O colecionador deve ser o profanador, que destitui a obra da sua instância separada, e por isso sagrada, restituindo-a ao direito humano. É aquele que a todo instante ventila e oxigena não somente seu acervo, mas também seu olhar, conferindo-lhe tantos outros usos e permitindo que a potência da obra se revele.

Tomamos emprestada a frase final do texto do casal Kornis como forma de manifestar a potência do colecionismo, a mesma que move Neyder Fernando Lima em direção à próxima obra: “Colecionar pode ser a rejeição prazeirosa do estereótipo. Colecionar pode ser a liberdade, a possibilidade do impossível”.

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